Eu sempre encarei o dilema de dar uma má notícia ao cliente como um dos mais difíceis da nossa profissão na luta diária de representar e defender em juízo os interesses de terceiros. Aliás, que responsabilidade essa, hein! Administrar o problema dos outros, como se nossos fossem, e como se os nossos mesmos não bastassem. Atuar em nome de outrem, como se outrem fossemos. Empatia pura. E sem empatia, além da necessária fidúcia, não funciona. E quando você coloca o chapéu do outro, veste a sua camisa, o sapato e a calça, faz o seu melhor, e o resultado positivo não vem? Ou ele vem (em primeira instância) e vai embora (em segunda instância)? Ou ele vem (em primeira instância), e vem (em segunda instância) e vai embora (no STJ). Como fica a empatia? Será que o cliente se coloca no nosso lugar e tenta entender o esforço que fizemos para tentar alcançar a vitória? O prejuízo financeiro não é do advogado, isso é fato. Mas o prejuízo moral sim, sempre. Uma ressaca das bravas. Em situações como essa eu me coloco no lugar do médico, cuja missão de passar uma notícia ruim é muito mais árdua e delicada, dada a evidente diferença do bem jurídico por ele tutelado. Mas a ciência do médico não é exata, como a nossa também não é, apesar de nem todo mundo assim entender. Como na medicina, não garantimos o resultado, mas sim o emprego da melhor técnica jurídica. Aliás, não podemos e nem devemos garantir nada, por mais confiança que tenhamos na tese jurídica. Ocorre que na medicina o imponderável está no ar, algo divino talvez, que o médico não controla. Já no direito alguns dizem que o imponderável estaria na cabeça de outra pessoa. Também está, mas não apenas lá. O imponderável está também na álea. Uma nova lei processual entra em vigor com aplicação imediata, a jurisprudência se inverte com o julgamento de um repetitivo que estava há 10 anos no gabinete de algum ministro, o magistrado se aposenta, ou infarta. E quando paramos para ver que a relação advogado/cliente é de longa duração, podendo perdurar por décadas, os fatores do imponderável têm mais chances de ocorrer. Apenas quem está na chuva dos litígios sabe a dor de cabeça que cada gota nos dá toda vez que o caso sofre um revés. Às vezes o cliente finge entender, às vezes não. O importante é termos ciência que não apenas de boas notícias nós vivemos, por melhor que tenha sido o trabalho intelectual realizado, pois nem sempre o bom direito está ao nosso lado. Todo mundo tem direito a defesa, mas nem sempre se ganha a ação. Ocorre que tem horas que o quadrado vira redondo, e não há o que fazer. O importante é manter a transparência, encarando a realidade tal como ela se apresenta, doa a quem doer.

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