Na semana passada você pôde ver aqui nesse blog1 uma análise do metaverso sob a ótica das relações de trabalho (de autoria da colega Júlia Meirelles: https://aho.adv.br/blog/artigos/metaverso-e-relacoes-de-trabalho-sera-que-e-viavel/). Hoje pretendo complementar essa temática com enfoque nas relações cíveis, convidando você, leitor, a refletir se já, há algum tempo, não estamos vivendo uma espécie de “embrião” desse mundo virtual.
Apesar de no artigo referido anteriormente o metaverso ter sido devidamente conceituado, não custa reforçar que ele nada mais é do que uma espécie de cópia do nosso mundo materialmente tangível, onde as pessoas poderão, através da soma de “realidade virtual”, “realidade aumentada” e “Internet”, interagir como se em carne e osso lá estivessem. E é em consonância, com esse conceito, que ouso dizer que, hoje, já conhecemos/vivemos uma espécie, mesmo que embrionária, do que promete ser o metaverso!…
Se você dúvida disto, é bom lembrar que talvez você esteja lendo esse artigo através da tela de seu computador, celular ou tablet, ou talvez recentemente tenha realizado uma audiência, ou dialogado com alguém, através de alguma plataforma on-line. Ou tenha pagado uma conta, mesmo sem estar com sua carteira, usando apenas a aproximação de seu celular, cartão de crédito ou mesmo fazendo um PIX.
Fez mais sentido, agora?
O fato é que nossa sociedade há tempos já está vivendo em uma realidade virtual, fazendo com que nosso mundo material e o mundo virtual não só se convirjam, mas acabem sendo a extensão um do outro.
Nossos Tribunais mesmo, nos últimos tempos, passaram a enfrentar cada vez mais problemáticas envolvendo justamente essas novas formas de interação. Para exemplificar novamente essa realidade, basta citar que as relações familiares cada vez mais têm sido realizadas de forma virtual por determinação de nossos Juízes. Desde março de 2020, quando a Covid-19 nos obrigou a viver em confinamento, ficou claro que a distância física não necessariamente obriga a existência de uma distância afetiva. É plenamente possível, e em alguns casos virou até regra, a convivência virtual entre pais e filhos.
Para comprovar minha afirmação vou além: antes os relacionamentos, que começavam com troca de olhares e toques, hoje cada vez mais se iniciam com cliques ou matches2. E isso não custará para, em breve – se é que já não esteja acontecendo –, mudar completamente o conceito de uma relação estável. Estamos chegando ao ponto de que é plenamente possível duas pessoas, apesar de distantes entre si, se unirem virtualmente para a constituição de uma família… quiçá até com filhos virtuais no metaverso!…
Loucura? Não! Simplesmente nossa realidade!
Como exemplo “menos louco” e atual, posso citar a notícia de que o famoso grupo musical sueco ABBA retornará aos palcos para lançar 10 novas canções após quase quarenta anos. E você sabe como? De forma virtual e com a mesma desenvoltura física e aparência de quando deram fim ao grupo quatro décadas atrás, apesar de seus integrantes hoje serem septuagenários!
É isso mesmo! Mais de oitocentas pessoas trabalharam na recriação do Abba “no auge” usando a tecnologia de captura de movimento para escanear “todos os gestos e movimentos” dos músicos, e criar seus avatares em forma de hologramas3 que se apresentarão em um palco no nosso mundo material. Ora, é o metaverso puro invadindo nosso mundo tangível. Já imaginou quantas disputas civis surgirão dessas novas formas de convívio?
Enfim, esses são apenas alguns exemplos do que hoje já existe e que me faz ter a certeza de que já vivenciamos uma espécie de metaverso. Não se iluda que essa “nova” realidade é algo distante… Você de alguma forma já a vivência! Lembre-se: não existem limites para a evolução da humanidade! Se isso é bom ou ruim, eu tenho minhas dúvidas, mas isto é algo para um outro artigo…
- https://aho.adv.br/blog/artigos/metaverso-e-relacoes-de-trabalho-sera-que-e-viavel/ ↩
- Um match acontece quando duas pessoas se curtem em alguma plataforma virtual, sendo a mais comum hoje o Tinder. Quando você aperta o coração verde ou desliza para a direta ao ver o perfil de uma pessoa que também deu like em você, aparece a mensagem “it’s a match!” (“é uma combinação!”, em tradução direta). ↩
- Holografia é uma técnica de registro de padrões de interferência de luz, que podem gerar ou apresentar imagens em três dimensões. ↩
Advogado sócio da Advocacia Hamilton de Oliveira, coordenador da área cível, é inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de São Paulo (OAB/SP) e na Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Amazonas (OAB/AM).
Bacharel em direito pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA).
Assessor da 03ª Câmara Recursal da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de São Paulo (OAB/SP)
