“Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé” (Antoine de Saint-Exupéry).

Aos 4 de abril de 2016, neste Blog da AHO, foi originalmente publicado o texto que, hoje, replico, com título diferente e com poucos acréscimos.

 

A proximidade destas eleições, conturbadas, diga-se de passagem, com personagens insossos que certamente não alcançam a grandeza que exige o momento, trouxe à tona este pequeno lembrete do que seria a vida em sociedade.

Todos têm, cada qual à sua maneira, influência no meio social em que vivem. O ser humano, por natureza, é carente de relacionamento e, portanto, precisa disso para se desenvolver. Se sem o outro não há existência, qualquer indivíduo é essencial para os demais.

Nesse contexto, diante desta latente necessidade, surgem habilidades úteis que podem atrair ou repelir, uns aos outros. A linguagem, por exemplo, pressupõe interação, mesmo aos que, acostumados a falar, esquecem-se de ouvir. Sem tal interação não faz sentido ter um complexo sistema de códigos ou palavras, já que, por falta de destinatário, não há mensagem a ser enviada.

Assim, valendo-se desta e de outras ferramentas, os indivíduos se aproximam de grupos com interesses comuns e se distanciam de outros que contam com percepções diferentes de uma mesma realidade.

Nesse emaranhado de relações, especialmente porque cada um é verdadeiramente o centro de incontáveis vetores, positivos ou negativos, surge o Direito como fundamento da coexistência. É como se tais interações pudessem ser catalogadas e, assim, reguladas, evitando o conflito e garantindo a paz social.

No entanto, justamente por também ser um tipo de relação, o conflito faz parte do indivíduo e, por isso, a sua ausência esvazia a plenitude do ser humano. Ao Direito, neste caso, cabe organizar o atrito, racionalizando-o.

Razão e emoção, como a linguagem, são ferramentas unicamente válidas se outro houver. Sentir só, sem o outro, é o mesmo que argumentar para se convencer de algo já incorporado ao seu jeito de pensar. Inútil, sem sentido.

Certo, então, de que não há vida sem o outro, resta saber como é que se quer viver. As interações entre os seres humanos são incrivelmente poderosas: todos são compostos por pequenos fragmentos cedidos pelo outro. Só se é o que verdadeiramente se é, quando o olhar dos outros constrói, com a essência de cada um, o ser.

Todos os atos, todo comportamento, toda palavra dita, tudo o que se faz atinge o outro, contribuindo para que ele se torne o que ele é e, em contrapartida, para que ele contribua na construção do primeiro ser, quem fez, agiu ou falou. Assim, simbioticamente.

Nesse sentido, em última análise, somos todos responsáveis pelo outro, pelo que ele faz, pela forma com que age, pelo que fala. Positiva ou negativamente.

Uma vida inteira vivida em um ambiente positivo, de estímulos, de segurança, de confiança e de respeito certamente não corresponderá a uma vida vivida imersa no caos, no desrespeito e na humilhação… E, assim, cada um desses indivíduos terá o seu peculiar olhar sobre um mesmo fato, interpretando-o através de suas próprias experiências, de suas próprias essências. Cada um desses indivíduos deixará sua marca na formação dos seres que com eles convivem, perpetuando suas características na formação dos demais.

As escolhas individuais, portanto, são indissociáveis do todo. O que se quer para si é o que se quer para o outro, pois sem o olhar que se espera do outro não há como ter o que se espera para si.

E, finalmente, tentar fazer prevalecer os desejos de um em detrimento de outros, em verdadeira desconsideração pelo todo, é tão ilusório quanto inútil. Ora, se sem o outro não há vida, desconsiderá-lo não parece uma boa ideia, já que esta negativa atitude terá seu impacto na construção do seu ser. E, quanto a este impacto, nem mesmo o Direito conseguirá medir ou regular sua extensão.

Afinal, “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.

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